De todas as paixões avassaladoras que tive, de todos os sentimentos platônicos e não menos devastadores que sonhei, ESTA foi o que eu tive de melhor. Foi quem involuntária e inconscientemente me motivara a tomar a tão séria decisão dado sentimento tão forte vivido entre nós em pouco tempo. A primeira vez que o vi, no caminho para o trabalho numa manhã meio fria que seria ‘uma qualquer’ e acabou se transformando no dia em que eu avistara meu futuro, minha paz, meu amor.
Num olhar cruzado já sabia o que tínhamos em comum. Era o ponto médio da estrada e após o encontro no caminho, olhares voltando-se para trás de poucos em poucos passos. Eram olhos meio esverdeados e graúdos como um pedaço do mar que depois seriam o meu lugar. Um rapaz de pequeno porte, sem muita postura, andar cabisbaixo e feição cansada e deprimida. Totalmente o meu inverso, mas era o que eu queria, o que soava com perfeição para mim. Passaria a ser o meu melhor brinquedo mais tarde. Seguimos no caminho até as esquinas extremas e só voltei o olhar para frente depois que não o pude mais avistar. Fui ao trabalho com aquela imagem na mente e dela não a tirei para não a perder. Trabalhei normalmente. Aparentemente, seria apenas mais um cara igual a mim de vontades escondidas e que cruzam olhares gritantes pelo mundo a procura de um beco escuro para se encontrar.
Na manhã seguinte fiz o mesmo caminho, no mesmo horário e caminhei mais devagar prevendo um possível atraso seu. Tudo para olhar naqueles mesmos olhos que me deixaram com água no corpo, suando de paixão, mas foi somente aquele encontro e nada mais nas próximas manhãs. Tinha tudo para ser só mais uma troca de olhares como as quais citei de antemão, com a vibração do sexo, de tanta excitação, mas o peito tinha me dado um sinal: bateu forte. Tinha que reencontrá-lo. Era o teste. Mas aquele olhar continuava guardado em minha mente por que o reencontro não acontecia. “Mas a vida é uma caixinha de surpresas” rs
Numa tarde normal que chegaria atrasado ao trabalho, mudando de turno posteriormente, procurei um restaurante para fazer minha refeição. Quando adentrei no recinto, deparo-me com aquele mesmo olhar daquela manhã especial que havia me fitado antes pela fachada de vidro do local. Tinha que passar pelo self-service e levar a comida para o trabalho e lá realizar a refeição. Estava prestes a montar o almoço mais demorado dos últimos tempos só para permanecer naquele lugar. O meu pensamento de atrasado que me apressava, eu havia matado a pauladas e enterrado a 14 palmos do chão.
Cumprimento de cabeça respondido na saída timidamente e sem esboçar vontade alguma para que ninguém suspeitasse de nada por ambos e aquela cena se repetiria por mais algumas tardes e no 14º dia de um agosto qualquer ao repetir aquela mesma cena dos olhares e cumprimentos e um leve sorriso acanhado, havia escrito num pedaço de papel as principais formas de contato entre endereços de e-mails e números de telefones. Estava nervoso e ao mesmo tempo decidido para entregar o tal bilhete. Queria conhecer mais o cara que passara a ser sempre a ‘entrada’ antes do prato principal no meu almoço. Entrei no restaurante e lá estava, junto de mais alguns amigos, os olhos que provavelmente me devoravam como sobremesa. Enquanto conversava com uma funcionária qualquer do local, ele se levanta de sua mesa e vem em minha direção para um aperto de mãos. Na minha mão ficara um bilhete deixado por ele. Pronto. Fim dos meus problemas. Não precisei entregar o meu retalho de papel.
Foi um aperto rápido, meio sem jeito e tão nervoso quanto eu estava. Aquele foi o máximo de exposição que eu me propus em ambientes “normais” e naquela altura do jogo, era a ultima preocupação que tinha diante de tudo que estava acontecendo. Trabalharia a tarde mais feliz e produziria beeem mais naquele dia. E no final do expediente, na ida para os estudos, liguei e fui recebido por uma voz calma e em tons de veludo. Estava mais apaixonado que antes a partir daquela ligação. O que falamos eu não me lembro bem, mas o teste havia sido positivado. O coração fez aquele “Tum Tum” diferente. Já havia me desfeito de todos os pensamentos que me fariam afastar daquele encontro ocasionalmente, mas aquele cara eu queria conhecer e estava disposto por ele. Enquanto falávamos ao telefone, corpo suado, voz meio tremula a procura das palavras mais bonitas para impressionar e o sexo mais vibrante que o normal me fez procurar um assento.
Iria estudar e não poderia faltar por causa de um encontro. Seria irresponsabilidade do estudante super interessado pela escola, mas aquele dia, depois da ligação passaria o caminho inteiro para os estudos pensando no garoto que havia se apresentado: Denys. O nome era o motivo do meu desinteresse pelos livros aquela noite. Estava ansioso e hiper impaciente. Bastou uma ligação para dizer que não ficaria para os estudos aquela noite e minha alegria maior foi que ele moraria sozinho. Era um sonho viver uma relação proibida em um lugar reservado, um ninho. Sonho impossível, possível. E mesmo que faltasse um lugar tranqüilo, encontraria uma solução dada tanta vontade que estava daquele garoto de olhos verdes. Encontro confirmado, metrô me levou. Apareci na sua rua e lá estava apoiado no portal da entrada do seu prédio. Aperto de mãos já não mais trêmulo, vozes calmas, vibração dentro da minha calça e sorrisos nos rostos. O convite para entrar. Já era tempo. rs
Um copo com água para esfriar um pouco antes da explosão já prevista pela mente e sentados frente a frente pude ver a imensidão daquele olhar puramente verde que me refletira de tanta emoção e aos quais me perdi em poucos segundos na explosão do primeiro beijo já sedento de pura excitação. Testosterona, a palavra mágica. Ao final do primeiro beijo, recebi uma forte mordida na língua e depois no lábio que gemi de dor e prazer. Não sei qual foi mais forte, mas estava na hora e lugar em que sonhei estar. Retribuí todas as mordidas que recebera no próximo beijo. E esta se tornou nossa marca. Mordidas de arrancar os lábios e língua. Tiramos as roupas e recebi um beijo em quem já estava suado de tanto eu pensar em tê-lo em si. Corpos nus, abraços e toques e beijos e tapas e sexo com muito prazer e dor estampados na face. Olhares papeando enquanto corpos se satisfaziam com o sumo da paixão. Tesão. Se aquilo não foi química, desconheço do assunto. Havíamos ganhado um laboratório para as nossas “experiências químicas”. Muitas promessas de amor e lembranças musicais. Não dormi com ele neste dia, mas estava decidido a jogar toda aquela roupa hetero pela janela. E havia jogado, mas a distancia, julgadora de sentimentos verdadeiros me fez revirar o lixo para encontrar os trapos que tinha jogado fora.
Hoje estou longe de quem amo ainda, mas que já encontrou substituto para si sem justificativas sólidas. Facadas no peito, muito sangue e sofrimento no chão. Cada um faz sua escolha. Só me resta ir caminhando, caminhar e caminhar. De tudo só me restou lembranças e algumas poucas cicatrizes de quem me prometeu coisas que não pôde cumprir.
Esta ainda é a minha melhor estória: num 14º dia de algum agosto, garoto azul pintado de vermelho que se viu nu no paraíso e gritando de felicidade e respirando poesia que foi calado e pintado de vermelho novamente. Tenho certeza que um dia volto para dizer que esta ficou para trás e que estou novamente nu. Finalizo com quem admiro, mas não gostaria de citar agora: “... Que não seja eterno, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure.” E foi. Esta é somente uma história triste de amor.
13.07.10 – 15.07.10
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