Ao som de “Avesso”, na voz de Jorge Vercilo, inicio este post. A primeira postagem do Combustão. Histórias de encontros inusitados e ao acaso, olhares, línguas umedecendo lábios, mãos sobre corpos, contos e muito drama trazido pelos traumas da infância ou não, meus ou não. Tentarei fazer de cá a companhia dos ouvidos que nunca tive, sem censura nenhuma, criar um canto onde possa me sentir à vontade para expor o que realmente sou e principalmente sinto. Um lugar onde se fala de sentimentos repreendidos, emoções reprimidas e abortadas, amores proibidos...
Batizei aqui de Combustão por que encontrei enorme semelhança desta reação química com a vida que se leva. A equação da paixão: duas ou mais pessoas na presença de oxigênio liberam muuuito calor e energia. Aqui paixão e combustão são sinônimas.
Apresento-me agora: “...No clarão do luar espero, cá nos braços do mar me entrego, quanto tempo levar quero saber se você é tão forte que nem lá no fundo irá desejar...” Um garoto de vinte e poucos anos, de algum lugar deste Brasil de meu Deus e uma mente totalmente reprimida involuntariamente (talvez) pela família, amigos e todos em geral. Um garoto sem rótulo que ainda não sabe como lidar com a situação mesmo com tamanha idade e experiência de vida. Totalmente inseguro. Sem traço afeminado algum e aparentemente HETEROSSEXUAL. Um garoto que aprendeu a viver à sombra da introversão coagido a guardar seus atos e pensamentos e idéias. Que sente que deve viver sua vida normalmente sem dever satisfações a ninguém e tampouco se sentir coagido ao ser censurado por alguém, que precisa dizer o que deve quando precisar, mas sem ainda atitude alguma para tal por inúmeros motivos. “...Dois meninos num vagão e o mistério do prazer, perigoso é te amar, obscuro querer. Somos grandes pra entender mas pequenos pra opinar se eles vão nos receber, é mais fácil condenar, ou noivados pra fingir...” Alguém de família simples e até com princípios digamos nobres, dos quais copiei os mais úteis e atemporais (e outros fui juntando ao longo da minha caminhada), mas altamente homofóbica e preconceituosa naturalmente. Medíocre cultura absorvida ao longo dos séculos. Não posso culpá-los, talvez, pois são vítimas da história tanto quanto eu. Pobres alienados, mentes alugadas. A diferença está na hipnose que em mim não funcionou justamente porque sou o outro lado. A quem devo culpar então? Ou melhor, posso culpar alguém?
Brincando do jogo do ‘Eu já’ e relacionando com o tema em questão, primeiramente, eu já quis se heterossexual de aaaalma e coração e não ter que fingir ser um de coração e depois alma; eu já me senti uma aberração divina; eu já tentei suicídio por não ter ou ver válvula nenhuma para extravasar ou mesmo me expressar (e se souberem de algum jovem suicida sem motivo aparente, adicione este às suposições); eu já sofri de depressão crônica onde todos palpitavam qual o motivo de tal doença em que só eu sabia o porquê; eu já me perguntei porque nasci assim (e às vezes continuo com a mesma pergunta e sem resposta); eu, fingindo ser hetero, saio com amigos heteros pra continuar fingindo e me divirto até algum ponto e depois me sinto desfalcado e com a velha sensação de solidão em meio à multidão; eu já me senti só (e também às vezes, muitas vezes, ainda me sinto); enfim, existem milhares de garotos iguais a mim pelo mundo a fora. Não sou diferente de nenhum garoto que lê este texto atraído talvez semelhança dos conflitos.
Sou um garoto que adora mulheres, que fala de mulheres, que deseja, tem, beija e transa com mulheres e extremamente extrovertido, palhaço e feliz. É MENTIRA! FACHADA! TUDO FACHADA! PURA ILUSÃO! Gostaria de ter um amigo amante. Um companheiro com o qual pudesse viver a vida normalmente com todos os problemas de qualquer casal sem ter que me refugiar em rótulos ilusórios para fugir do preconceito de todos. Sou um garoto sonhador e romântico em meus pensamentos. Mas provavelmente casarei com uma mulher e terei filhos e talvez estarei satisfeito. Trágico destino; ou cômico. E durante a madrugada pela net, procuro vídeos com belas mensagens e histórias para ler e fotos de amores diferentes e fora do comum. Refúgio, ar puro, suspiros. Quantas pessoas também fazem isso meu Deus? Penso vinte e quatro horas/dia em assuntos afins, em uma maneira de expressar tal sentimento ou na coragem, ainda não nascida, de reunir todos na sala e até mesmo gritar bem alto quem eu de fato sou sem medo de nada sequer. De dizer aos meus reais amigos como sou de fato e como me sinto. De poder comentar o que penso e acredito de fato. Mas nada sai boca a fora. Nada escoa da mente. Quilométrico congestionamento. Há um pensamento que diz “Se o meu sorriso pudesse expressar o que sinto do fundo de minha alma, as pessoas ao me verem sorrindo chorariam comigo.” Este sou eu. Minha síntese. Meu esqueleto. Minha carne e minha alma.
Clarice Lispector sabe bem do que eu falo. Sugiro até certa tendência em seus pensamentos, sem ofensas. Em suas palavras sempre acerta em cheio acerca do que eu e trocentos caras iguais a mim sentimos. Ela disse: “É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer por que no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo." Soa como um hino para mim. Oração.
Aos mais saídos, cabe: “Não me defina pelo que escrevo. Não me defina pelo que penso. Não me defina pelo que você pensa, ou pelo que pensa do que eu escrevo. Definir-se é limitar-se, é diminuir a potencialidade que há em ser. Deixe-me ser, seja e veja simplesmente; não entenda, não me entenda, não quero ser entendida. Não quero parecer ter respostas, mas propor perguntas: só a falta de conclusões traz novos pensamentos. Cansei de horizontes contornados, de retas encontrando-se no infinito: quero o infinito infinito, o horizonte sem forma, cor, e inalcançável. Quero todo sentimento novo de novo, toda dor que vier e todo riso: o ar que toca os dentes já não é mais o mesmo. Nenhum dia o é, e a inevitabilidade do nascer do sol é a única rotina sadia. Venham sóis, venham chuvas!” Até motiva. rs. Santa Clarice que permite que milhares de pessoas se aliviem ou se afoguem ainda mais em sua literatura torta e difícil para alguns, porém claríssima e de alto e bom tom para mim e outros.
Eu? Cá continuo lendo-a. Vou escrevendo por aqui e dia a dia, não necessariamente nesta ordem, digo-vos se alivio ou afogo-me de vez ou lentamente. Esta foi minha primeira auto-análise ainda meio acanhada pelo vendaval de histórias embaraçadas umas entre as outras clamando pelo vento. Prometo-vos mais, bem mais. Falar de amores, olhares, encontros, tudo o que o garoto “hetero” nunca falou aos seus amigos heteros. É isto. Este sou eu. Vou economizar para o próximo post e poupar-lhes um pouco os olhos. rs
Sejam muito bem vindos.
Eis o meu cantinho. Pode ser o seu também!
Aguardo comentários com críticas, opiniões, elogios, textos para postagem, etc. Quero que este lugar seja um grande auto-falante para todos os que querem sentir um pouco em paz consigo mesmo e com todos onde haja respeito, minimamente. Todos merecem ser felizes. As ações de hoje, devem gerar boas reações amanhã. Caso contrário, não há evolução. Eu quero evoluir e você??
A evolução consciente começa assim que tomamos a responsabilidade de remover nossas próprias barreiras - Dan Millman (Escritor americano).
290610 - 170710
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